Os setores que oferecem oportunidades e o perfil de quem vai se dar bem
Tathiane Simões, 37 anos, consultora de vendas da Duke:
energia precisa de vendedores que inovam
Os setores que oferecem oportunidades e o perfil de quem vai se dar bem no meio da tormenta de demissões e cortes de gastos, há setores que mantêm seus investimentos e continuam contratando. É o caso de empresas dos segmentos de varejo, alimentos e bebidas, energia e serviços de terceirização. Em tecnologia da informação, por exemplo, companhias de médio porte estão absorvendo profissionais que vêm do mercado financeiro, que anda em baixa.
As empresas de terceirização de serviços ganham mais na crise, pois são vistas como um artifício para cortar gastos, por exemplo, por meio da implantação de novas tecnologias, otimização da estrutura de TI e até de gestão de condomínios. “Com a necessidade de corte de custos, nós ganhamos clientes que precisam gastar menos”, diz Roberto Marinho Filho, presidente da TCI, que deve contratar cerca de 1 000 profissionais neste ano. Vale lembrar que boa parte dessas vagas é mesmo para a base da pirâmide corporativa e absorve gente que foi cortada de empresas de outras áreas. Mas há também oportunidades, ainda que em menor quantidade, para analistas, gerentes e diretores nas empresas que pesquisamos. Estamos preenchendo agora uma vaga de gerente industrial, que foi aberta recentemente, e procuramos ainda supervisores”, diz Wellington Maciel, diretor de recursos humanos da Norsa, distribuidora da Coca-Cola em diversos estados do Norte e Nordeste. Conversamos com os grandes empregadores, executivos de diversos setores, analistas e headhunters que revelam os setores mais quentes na crise e o que as empresas esperam de seus profissionais .
SETOR
VAREJO
Continua contratando » Está mais longe da crise quem vende produtos de primeira necessidade. “O setor não deve deixar de contratar, pois o governo está colocando dinheiro na economia”, diz o professor James Wright, da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. “O dinheiro que sobra de produtos mais caros é transferido para a compra de itens básicos”, diz Gilberto Guimarães, da consultoria BPI, que estruturou a academia de treinamentos do grupo de shoppings Iguatemi.
TEMPERATURA - QUENTISSIMA
Habilidades em alta
“Esses profissionais precisam inovar e encontrar soluções para vender seus produtos”, diz Gilberto. Um exemplo recente vem das Casas Bahia, que no mês passado começaram a vender também pela internet, como fazem as Lojas Americanas e o Ponto Frio. Atualmente se exige um profissional com amplo conhecimento da operação. “É comum ver gerentes acompanhando o dia-a-dia do frigorífico”, diz Renata Moura, executiva de RH do Carrefour. Esse gestor também deve entender as particularidades do negócio, como posicionamento e precificação, tem de ser um hábil negociador e criar oportunidades.
Onde estão as vagas
No ramo de supermercados, as estrelas são Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar. Entre os grandes lojistas, o destaque é a Renner. O Wal-Mart anunciou que vai contratar 10 000 profissionais em 2009. E o Pão de Açúcar pretende recrutar 400 gerentes para suas lojas.
ALIMENTOS E BEBIDAS
Aqui também tem vaga » Assim como o varejo, este setor faz parte do segmento de consumo. Seus produtos são de primeira necessidade e de baixo valor, portanto, a tendência é que as vendas de alimentos e bebidas não sofram queda brusca. “Vale lembrar que esse setor é o último a sentir a crise e o primeiro a se recuperar”, diz Francisco Ropero Ramirez, da ARC, empresa de recrutamento de executivos em São Paulo.
TEMPERATURA - Quentíssima
Habilidades em alta
Gestão de custos, logística, comercial e planejamento. Profissionais dessas áreas estão com o passe valorizado. “Neste momento, corte de gastos e resultados rápidos são prioridades”, diz Wellington Maciel, diretor de RH da Norsa, distribuidora da Coca-Cola na Bahia, no Ceará e no Rio Grande do Norte. “É importante não se desesperar com a situação, para continuar atento às metas de longo prazo. Mas fazer mais para vender bem hoje”, diz Cristiane Mendes, de 31 anos, coordenadora de da empresa. trade marketing da empresa.
Onde estão as Vagas
Nos fabricantes, distribuidores e revendedores de produtos, principalmente os mais populares de primeira necessidade. Somente a Perdigão e a Kraft, juntas, vão abrir 14 000 postos de trabalho. Há oportunidades no nível operacional e gerencial.
ENERGIA
Tendência de expansão » É um setor regido por investimentos de longo prazo e que não deve cair muito, pois a demanda do consumidor aumentou — basta lembrar a ascensão de 30 Milhões de brasileiros ao mercado consumidor nos últimos anos e a busca por fontes renováveis de energia. As indústrias, grandes compradoras, devem puxar para baixo, mas vale lembrar que o governo investe em fontes alternativas.
TEMPERATURA - Quentissima
Habilidades em alta
Aqui, o cliente é rei e quem trabalha (ou pretende trabalhar) na área tem de pensar novas formas e serviços para facilitar a vida do consumidor, incluindo grandes indústrias. “A área financeira precisa otimizar custos”, diz Maria Cecília Frozza, gerente de recursos humanos da Duke Energy, de geração e transmissão de energia. “Você tem que fazer uma venda que envolva diversas áreas da empresa, para oferecer algo novo”, diz Tathiane Simões, de 37 anos, consultora de comercialização da empresa.
Onde estão as vagas
Energia renovável é um dos setores que precisará de gente que entende do assunto. A Elektro e a Eletrobrás pretendem recrutar 336 profissionais este ano. Há oportunidades ainda nas empresas ligadas à cadeia de exploração de petróleo.
SERVIÇOS
Trabalho de sobra » As empresas de terceirização de serviços ganham mais na crise, pois são vistas como um artifício para cortar gastos, por exemplo, por meio da implantação de novas tecnologias e otimização da estrutura de TI. “Com a necessidade de corte de custos, nós ganhamos clientes”, diz Roberto Marinho Filho, presidente da TCI, empresa de terceirização que deve contratar em torno de 1 000 profissionais neste ano.
TEMPERATURA - Quente
Habilidades em alta
Os profissionais precisam ser flexíveis, já que grande parte das oportunidades é para analistas de tecnologia da informação e consultores, que em muitos casos trabalham na empresa contratante. “Tem que ter empatia para conversar com os clientes e transformar o que eles dizem em uma solução”, diz Gilberto Guimarães, da BPI. “O cenário é bom nessa área e ganha quem tiver visão de novos negócios”, diz Daniel Guedes, de 31 anos, diretor da área de expansão de negócios da TCI, que recentemente fez uma aliança com a PricewaterhouseCoopers.
Onde estão as vagas
Empresas grandes e médias. Profissionais especializados em rede são valorizados. Outra aposta das empresas de terceirização é o segmento de saúde, que cuidam da cadeia logística de medicamentos. Oferecem ainda gestão de documentos e de condomínios.
Agronegócio
Ainda há boas oportunidades » O setor recebeu injeção de capital do governo e o preço das subiu em janeiro, o que animou os commodities executivos da área. As grandes empresas no segmento vinham em um movimento forte de modernização, com investimentos em plantas industriais e capacitação dos profissionais de campo, que são a linha de frente dessas companhias junto aos clientes — fazendeiros e agricultores. O setor reduz investimentos, mas há oportunidades de emprego.
TEMPERATURA - Morna
Habilidades em alta
A profissionalização da força de trabalho continua, embora com investimentos mais enxutos. “Mesmo na crise você precisa ter pessoas capacitadas”, diz Gerhard Bohne, diretor de operações da Bayer CropScience, divisão de desenvolvimento de sementes e biotecnologia da Bayer, que responde por 43% do faturamento do grupo no Brasil. O foco é na área de vendas e marketing. Novamente, aparece o bom vendedor. “Profissional da área comercial com conhecimento técnico, que atua como consultor, está em alta”, diz André Bocater Szeneszi, diretor-geral da Alpen, de recrutamento de executivos com sede em São Paulo.
Onde estão as vagas
Este ano, somente o grupo Bayer vai contratar 160 profissionais no Brasil. O foco é na área de vendas, marketing e pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Novamente, aparece o bom vendedor, com mais habilidade de fazer uma venda técnica e com argumentos fundamentados em dados.
FARMACÊUTICO E SAÚDE
Procuram-se gestores » O setor contratou executivos em 2008 e segue recrutando. As empresas de medicina, aponta a consultoria DBM, ampliaram em 81% o número de vagas para executivos, em relação a 2007. Já o segmento farmacêutico apresentou alta de 72%. “Essas indústrias se profissionalizam e buscam profissionais experientes no mercado. Esse é um movimento que deve continuar”, diz Cláudio Garcia, presidente da DBM.
TEMPERATURA - Morna
Habilidades em alta
Quem já tem conhecimento do negócio e do mercado ganha, pois também está se profissionalizando e precisa de gente que dê suporte a esse crescimento. A área de compras e a financeira são das que mais têm recrutado profissionais.
Onde estão as vagas
Fabricantes de remédios de uso continuado, como é o caso de diabetes, e de medicamentos de baixo preço demoram mais para sofrer os efeitos da economia em queda. “Os pacientes preferem cortar muitos outros gastos antes de interromper um tratamento essencial”, diz Claudio Coracini, presidente da dinamarquesa Novo Nordisk no Brasil, fabricante de insulina. A área de exames clínicos e serviços de saúde em geral deve diminuir, mas não cortar completamente as contratações que vinha fazendo desde 2008. O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, abre 500 vagas em 2009.
QUEM SOBE
Os departamentos em alta nesta hora
Marketing e comercial
Estão entre os mais demandados. Os dois andam juntos para encontrar novas formas de vender os estoques acumulados. Por outro lado, a área de produção cai com os baixos resultados da indústria.
Financeiro
Sai o homem que entende de investimentos e fusões e entra o controller. É hora de cortar gastos e descobrir maneiras de pagar menos impostos legalmente. Além disso, quem encontrar formas de oferecer mais crédito ao consumidor, apesar da cautela dos bancos, estará em alta no momento atual. Compras
Quem trabalha na área de compras está entre os responsáveis pelo corte de gastos e tem de encontrar soluções criativas para ter resultados com menos dinheiro.
De olho nos indicadores
Alguns indicadores podem ajudá-lo a dimensionar o impacto da crise sobre o setor em que a sua empresa atua — e também sobre sua carreira. Esses índices são divulgados pelos jornais. Fique de olho.
Crédito 45%
É o percentual do PIB que será oferecido como crédito. A expectativa é de que a oferta de linhas aumente entre 15% e 20% em 2009. Setores ligados ao consumo, como varejo, alimentos e bebidas, tendem a se beneficiar. Com mais capital, as empresas investem mais.
Fonte: Tendências
Conta corrente - US$ 28,3 bi*
Apresenta o saldo de transações com o exterior. Em uma crise internacional, as companhias enviam maior quantidade de moeda para a matriz. “Se a sua empresa é americana ou inglesa, é mais provável que haja cortes de gastos”, diz Luiz Antônio Concistré, consultor da DBM.
*Em 2008
Produção industrial - 12,4%
A produção de veículos automotores no país caiu fortemente no final de 2008 e puxou a atividade da indústria brasileira para baixo. Para ajustar os estoques à demanda (mais baixa), a indústria teve de diminuir o ritmo: demissão e férias coletivas para boa parte.
Balança comercial - US$ 518 mi
A balança comercial registra as exportações e importações feitas no país. Com a desvalorização do dólar, os produtos brasileiros ficam mais baratos no mercado externo, o que favorece as exportações. Setores de commodities agrícolas e minerais saem ganhando.
Fonte: Você SA
Autor: Por FABIANA CORRÊA E JOSÉ EDUARDO COSTA
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